Cocaína: Pequeno histórico e critérios. Estou dependente?
- Karen Dias Jones
- 9 de abr. de 2020
- 3 min de leitura

O uso de substâncias que alteram a percepção é mais remoto do que parece. Temos registros de consumo de álcool que datam 7.000 AC, resultado da fermentação de arroz, mel e frutas. (Cooper-White, 2015). Em diversas culturas, o uso de substâncias foi associado a rituais místicos para promoção do encontro do sujeito com o divino e com os mortos, sendo um elo importante para a ligação entre o real e transcendental. (Nunes & Jólluskin).
Platão, na Grécia Antiga, chegou a referir às phármakas (ópio), que era aconselhado como medicação. Os sumérios em 5.000 AC também deixaram registros que apontava o ópio como representante da alegria e do regozijo. O ópio e o cânhamo (planta de Cannabis) era consumido pelos egípcios por volta de 1.500 AC. para esquecerem preocupações e ludibriarem a fome e o cansaço. (Nunes & Jólluskin).
A civilização Inca da região de Cuzco, no Peru, adotou a produção e o consumo da folha de coca no século XV. Duas lendas contam sua origem: Para os índios yunga a coca é o arbusto que auxiliou na derrota de um deus maligno e para a tradição incaica, foi o primeiro governador inca Manco Capac que doou as primeiras sementes para a população suportar a fome e a fadiga no século XIII. Era utilizada como recompensa a soldados e a oligarquia que tinha como privilégio o seu uso. (Leite & Andrade, 1999).
Atualmente o uso destas substâncias fazem parte da nossa rotina e cultura. Quando falamos de substâncias estamos a falar de tabaco, cafeína, medicamentos, álcool e muitos outros.
Algumas substâncias psicoativas são mais aceites pela sociedade como a cafeína, medicamentos, álcool e tabaco. Outras menos aceites, porém, mais palatáveis como a cannabis, MD e outras anfetaminas. Mas há também o grupo de substâncias que são “escondidas”, rejeitadas pela sociedade e compartilhadas somente pelo grupo de pessoas que fazem o uso. Esse é o caso da cocaína, heroína e crack.
O julgamento da sociedade baseia-se em uma premissa que faz sentido: O uso de grandes doses de álcool, por exemplo, não lesa o organismo como o uso da cocaína. E é fato que não há dose segura do uso de cocaína, mesmo se o usuário esteja somente a experimentar. (Laranjeira, Jungerman, Dunn, 2001).
Só que esse isolamento acaba por limitar as informações de saúde a respeito do uso e o usuário acaba por manter relações sociais íntimas somente em seu próprio círculo de uso, porque constrange-se em falar sobre ou pedir ajuda.
As dúvidas sobre o uso da cocaína são pertinentes, pois se o uso do álcool é comum e aceite, o consumo acaba por ser muito comum. Mas qual seria o parâmetro para saber se um usuário está ou não dependente da cocaína? A quem posso fazer esta pergunta se é legalmente proibido o uso dessas substâncias? Serei julgado? O uso que estou fazendo é nocivo (não dependente, mas danoso)?
Deixaremos aqui alguns parâmetros para a auto-análise. Se houverem 3 ou mais critérios em um espaço de tempo (Laranjeira, Jungerman, Dunn, 2001), é importante ter atenção, diminuir o uso e procurar auxílio. São eles:
1 – Desejo forte ou compulsão para consumir,
2 – Dificuldades em controlar o uso, seu início, término e nível de consumo;
3 – Abstinência após redução do consumo;
4 – Tolerância aumentada, provocando o aumento do consumo. (Aumento de doses para alcançar efeitos anteriores com baixa dosagem);
5 – Abandono progressivo de prazeres ou outros interesses (interesses voltados em grande parte para utilização),
6 – Aumento do tempo na busca, consumo e recuperação da cocaína (Usuário dedica um espaço de tempo maior para consumo e recuperação que outrora) e
7 – Apesar de perceber e sentir os malefícios o usuário persiste no consumo. (embora esteja sentindo os prejuízos do uso, não é afetado pelas consequências).
O tratamento para dependência de cocaína conta com o apoio dos serviços de saúde, da psicologia e da psiquiatria. Não sendo incomum a ocorrência de comorbidade entre a dependência e a existência de psicopatologias (outros transtornos psiquiátricos) pregressas. O profissional de saúde mental irá orientar, atender e auxiliar o usuário neste processo.
É sim possível atravessar e diminuir o uso e a dependência. Procure orientação.
Obs: Texto resumido para facilitar a leitura e esclarecer o leitor. Mais informações entrar em contacto com karenjones.psi@gmail.com ou pelo link https://karenjonespsi.wixsite.com/karendiasjones
Karen Dias Jones
Psicóloga
CRP: 46558-05
Referências:
Cooper-Ehite, M. (2015). Humans have been getting high since prehistoric times. Research shows. HuffPost. Consultado em 09 abril 2020. Disponível em https://www.huffpostbrasil.com/entry/prehistoric-drug-use-thousands-of-years_n_6622446?ri18n=true&ncid=newsltushpmg00000003
Laranjeira, R., Jungerman, F. Dunn, J. (2001). Drogas: Maconha, cocaína e crack. 1° Edição. São Paulo: Editora Contexto.
Leite, M. C. & Andrade, A. G.. (1999). Cocaína e Crack. Dos fundamentos ao tratamento. 1° Edição. Porto Alegre: Artmed.
Nunes, L. M., & Jólluskin, G. (2007). O uso de drogas: breve análise histórica e social. Revista da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, 4, 230-237.
Comments