Como lidar com pessoas “difíceis” no dia a dia
- Karen Dias Jones
- 18 de abr. de 2020
- 3 min de leitura

Uma grande amiga relatou-me uma história muito interessante. Ela estava sentada no trem voltando para a casa após um cansativo dia de trabalho e universidade, quase a adormecer. Em seu cansaço não percebeu que ao lado e, em pé, havia uma mulher grávida. Em um ímpeto surpreendente a senhora grávida gritou, despertando minha amiga de seu transe noturno. A senhora exigiu seu direito ao assento de forma muito agressiva. Minha amiga, obviamente, levantou-se e imediatamente deu o lugar, pedindo desculpas. Mas ao relatar-me essa história, minha amiga estava contando outra coisa: Do quão mal ela se sentiu pela senhora, não pelo agressão que recebeu desta. Minha amiga ficou surpresa pela explosão emocional e disse para mim: “Imagina, ela não estava nada bem! Fiquei muito preocupada com ela.”
Esse evento real pode nos ensinar uma lição importante: Minha amiga teve um insight de que a cena não tratava-se dela (afinal, não ver a senhora foi um ato sem intenção proposital), mas da senhora, que estava tão nervosa e se sentindo tão invisível que precisou gritar para ser vista e ter seu pedido satisfeito: “Como deve ter sido o dia dela para perder a paciência no trem assim? Ela deveria estar muito angustiada!” - pontuou minha amiga.
Minha amiga agiu em um raciocínio muito interessante: Ela conseguiu separar o que era dela nesse acontecimento e o que era do outro. Ela reconheceu sua responsabilidade e pediu desculpas pela distração, mas também reconheceu que a ação da senhora havia sido desproporcional e altamente disfuncional, indicando um estado emocional desestabilizado.
O que me leva a perguntar: Quantas vezes não tomamos para nós a responsabilidade da agressão dos outros? Quantos de nós nos sentimos culpados e feridos pelo trato agressivo de terceiros?
Todos nós estamos sujeitos a esbarrar, em algum momento de nossas vidas, com pessoas agressivas e difíceis. Um "bom dia" ignorado, uma resposta ríspida desnecessária, um conluio injusto e etc, são exemplos de atitudes que acontecem em ambientes tóxicos ou até mesmo em um trem.
E isso é interessante para pensarmos, pois quando o outro é ríspido, ele está unicamente a dizer sobre si mesmo, pois somente ele tem a responsabilidade e a decisão final em como irá agir e responder a eventos de seu dia. Sentir-se culpado por receber uma ofensa seria equiparável a sentir-se culpado por ter sido vítima de furto, ou seja, a "culpa" está definitivamente no lugar errado.
Nestes casos, deixo algumas dicas que podem ser úteis em tempos de crise:

1 – Olhe para a sua responsabilidade dentro da cena:
Faça uma auto-análise, será que de fato fez algo que feriu alguém? É possível pedir desculpas? Não há vergonha em pedir desculpas, ao contrário, pedi-las demonstra maturidade e controle emocional. Lembre-se que temos sempre alguma parcela, nem que seja mínima, de responsabilidade. (Assunto para outro artigo).
2 – Observe a responsabilidade do outro na cena:
Coloque-se no lugar do outro: Qual resposta/ação o outro escolheu para ter contigo dentro dessa dinâmica? Foi justo? Foi o melhor? Foi desrespeitoso?
3 - Pontue sua posição ou saia da cena:
Dependendo do caso é necessário que você se posicione, informe a sua responsabilidade e a responsabilidade do outro no ato. Mas caso não seja necessário estar diariamente com essa pessoa, retire-se. Simplesmente saia. Entrar em uma discussão inútil com alguém que não conhece é desnecessário e afirma a posição agressiva do outro como única via possível. Enxergue esse outro, provavelmente ele não está bem. Assim como minha amiga do trem conseguiu enxergar a senhora.
4 – Vale a pena ter essa pessoa na sua vida?
Reflita: Vale a pena ter essa pessoa na sua vida? Algumas pessoas podemos simplesmente nos afastar e até mesmo nunca mais ver. Mas outras infelizmente é necessário uma convivência diária e pacífica, como no caso de familiares, chefes, coordenadores, líderes de equipes. É importante ter cuidado na lida e analisar se é possível manter uma distância segura. Elas precisam ter acesso a sua vida pessoal ou serem próximas demais? Definitivamente não. Então mantenha seu espaço de segurança preservado.
Todo cenário possui diversas perspectivas e, antes de tomarmos para nós o mal dado/jogado pelo outro em nosso colo, é interessante olhar por outros ângulos para situar aonde nos encontramos na cena. Separe o seu peso do peso dos outros. A vida com certeza ficará mais leve.
Observação: Relacionamentos amorosos abusivos tratam-se de outra temática, que futuramente iremos abordar.
Karen Jones
Psicóloga
CRP 05-46558
Comments