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Conquistei um sonho, por que não estou feliz?

  • Foto do escritor: Karen Dias Jones
    Karen Dias Jones
  • 23 de fev. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 5 de mar. de 2020

# Das angústias ouvidas na clínica. <Escrito em 2015>


Meu companheiro é perfeito, por que não quero ficar com ele?”; “Minha casa é linda e tem tudo o que quero, por que me sinto tão vazio nela?”; “Consegui tudo o que quis na minha vida, por que estou infeliz?”. Ou então, “Consegui realizar o meu sonho, não sei mais o que fazer daqui para frente”.

No filme “Vicky, Cristina, Barcelona”, de Woody Allen, a personagem Maria Elena acusa Cristina de sofrer de “eterna insatisfação”. O argumento se devia ao fato de que Maria Elena dava tudo para Cristina e, mesmo assim, Cristina continuava se sentindo incompleta, vindo depois a abandonar tudo. Essa passagem do filme é uma mostra do que acontece com muitos ao longo da vida. A questão é: Se obtive aquilo que tanto desejei, por que estou infeliz?


Essa queixa aparece muito na clínica: “Meu companheiro é perfeito, por que não quero ficar com ele?”; “Minha casa é linda e tem tudo o que quero, por que me sinto tão vazio nela?”; “Consegui tudo o que quis na minha vida, por que estou infeliz?”. Ou então, “Consegui realizar o meu sonho, não sei mais o que fazer daqui para frente”.


Há, na nossa sociedade certa mistura do “ter” com o “ser”. O “ter” (reflexo do consumismo), induz a ideia de que o alcance de determinado sonho, habilidade ou objecto de desejo, resultará em uma alegria arrebatadora, dando a tão esperada sensação de completude. Neste raciocínio, muitos percorrem os caminhos que tenham mais chances garantidas de “sucesso” (para alimentar o “ter”), sem terem feito uma escolha real. O final dessa estrada é uma incógnita e, ao se ver dentro dela, o sujeito percebe que está em um local estranho, não desejado e que o seguiu por motivos alheios a sua realização pessoal.


Esse comportamento tem explicação: Desde a infância há o condicionamento social de viver no presente a constante preparação para o que se quer no futuro, através de escolas, cursos e graduações. Com isso, é depositada no futuro a esperança de que ao se ter a realização de um objectivo, haverá felicidade. Como se ambas fossem as mesmas ou estivessem intimamente conectadas. O curso de línguas, por exemplo, traz junto consigo alguns desejos implícitos do estudante: Um emprego melhor, viagens internacionais, novas amizades e etc. Todos esses desejos trazem imagens de possibilidades felizes. A verdade é, que nem sempre estes desejos serão realizados, e quando o são, serão muito diferentes da idealização imaginada. O foco no “ter” sobrepuja o “ser”, fazendo com que esse “ser” fique de lado, adormecido, esperando o “ter” chegar para se manifestar. E isso só pode resultar em decepções.


O que fazer?


Se conhecer é o primeiro passo. Não conhecer a si mesmo (ou não ter investido no “ser”), afecta directamente o modo com que fazemos escolhas, nos desenvolvemos, vivemos e sentimos a vida. A análise ou psicoterapia é uma importante ferramenta de auxílio para acessar esse “eu interior” como um espelho, que traz aos olhos do analisado um conhecimento mais real de seu próprio ser. Quem se conhece, sabe quem é no mundo e como esse mundo o afecta, podendo fazer escolhas mais saudáveis, ficando mais próximo da felicidade tão almejada.


O que Maria Elena não entendia era que seu relacionamento com Cristina era uma das experiências de sua vida (ser), e não uma forma de alcançar felicidade e sentido da mesma (ter para ser). A escolha de Cristina em sair da relação parecia muito óbvia, na relação tinha-se "tudo", menos felicidade. Sendo assim, Cristina sentiu-se livre para abandoná-la.


Karen Dias Jones – Psicóloga / karenjones.psi@gmail.com

 
 
 

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© 2020 por Karen Jones.

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